quinta-feira, 10 de junho de 2010

Condensação

Tudo é um. A fumaça do copo de café quente se condensa à fumaça da evaporação deste cigarro. E eu não consigo me concentrar. Pedir desculpas e licenças para entrar e sair das portas. Todas elas fechadas, e agora, mais que nunca é preciso ser forte. Invenções sobre o concreto das leis físicas. É preciso ser um engenheiro e um arquiteto. Na vida tem de se ter os olhos sériamente abertos e os ouvidos atentos. O silêncio pertence às almas elevadas, e tudo não passa de um efeito mental.
"Eu sinto muito, eu sinto tanto... Eu nada sinto..." É tudo um percurso imutável: Estudar, trabalhar, suportar a vida... Não posso ceder à dor do desespero, e é preciso transformar a Arte em um monumento. Corpo, voz, palavra, som, e ação. Criação máxima da dor-de-cabeça humana. E eu não passo de um colecionador de favores. Até os nomes que me dão são favores dos outros em me depositar uma identidade. Doação trágica e sem sentido àquele que faz de si Nada e absurdo.
Sátira e riso por sobre a fechadura, finge que se lê e finge-se que se aprende. Tudo não passa de desvelamento, ocultar-se e mostrar-se no instante necessário. Não passamos de animais com instintos perigosos. O perigo de querer saber, e achar que têm a consciência de que se sabe; sem consolo ou momento de maresia. Tranqüilidade que finge-se de céu. Apaziguamento inalcansável. "Só fingir..." E se excusar.
E o vestígios ficam acumuladas no fundo do copo, onde nada se tira e nada se põe, resto de sentimentos, fragmentos saturados dentro de um poço da infinitude. Corda de escape úmida e frágil. E ainda assim, essa necessidade de outro e de toque, sem deixar que se aproxime desta caverna cheia de ilusões e cautelas. Fragmentos desconexos de pensamentos dexorados. Neologismos de minha lógica poliglota de um corpo só. Multiplicidade enclausurada em Um.
E o som das risadas que parece chegar a ferir... A solidão da necessidade de silêncio sem quietude. Uma terra estrangeira para um eterno estranho. E as pessoas são todas assim: Sem igualdade ou familiaridade.
Escuridão de sala de cinema. Espera atenciosamente da tela uma saída, e essa vontade de vomitar que me toma e assalta. Por mais que eu pense o contrário, eu QUERO VIVER. Com ou sem mar...
Gosto de bota e solas de sapato, ressaca de vinho sem sabor. E então, eu me ausento e me anulo. Torno-me nota em pausa e desapego. Partitura rompida ao final...
Tudo é Um, e o Nada é (sempre) parte de Tudo. Desgregamento psicossomático de Ser.

.............................................. 14-5-2010

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