sábado, 30 de outubro de 2010

Canção ao Einhleuchtend

II

E o que dizer desta luz tão fraca
que ascende antes de se pôr
para o firmamento de todas as coisas?
O lampejo, a subta fagulha inerente
a todos os homens! Que no entanto, não dão conta...
O abismo não é para qualquer um.
Podes tu ver a imensidão do cume
e sentir a pequenez que te abranges tornar-te
suficientemente miserável para nunca encará-lo frente-a-frente;
Mas do alto, como tu bem esperas, pode-se constatar
a grande imensidão escura que te proclamas.
Ama, meu caro, a queda.
Ama, pois nisso, ama-te a ti mesmo!
(porquanto perdurar tua estadia entre o vale);
Imerso entre as trevas, até o fundo de tua alma,
de teu apelo... Pois é somente do topo que consegue-se
encarar abruptamente o âmago do abismo,
constatá-lo como um igual, e compreender seu
Real perigo e sentido.
Quero, ignóbil amante, que entendas
acima de todas as coisas,
somente aqueles que têm asas têm o direito de cair.




terça-feira, 5 de outubro de 2010

Mítica

Mítica
....................................A Igor Roosevelt

"Apaguem as luzes, eu Quero sofrer!"
Gritou o homem embravecido;
Mas as luzes não se apagaram...
Não se apagam, elas, quando bem entendemos,
Apagam-se quando intendem a si
e às próprias intenções (de Fim),
Desfazendo-se em trevas, e som;
Sem luz, transmuta-se, reflexo estrelado
d'uma Rodovia que leva, tortuosa,
à algum lugar... Que não se quer saber.
E grita, com sua voz, tão sua,
impropérios de ninguém;
Brado de um homem louco
que desafia seu humano instinto ao Nada.
Enquanto sofre, desesperado,
empiedando-se e, contorcendo
sua exclamação enraivecida; revira-se
a Luz que atinge os seus olhos.
"Apaguem a luz...!"
E no entanto, não se ajoelha
em sua revolta mais que singela,
abre com as mãos o dilema,
em sua fenda árida e pueril.
Entorta o rosto e o gesto,
inclinando-se para frente,
para baixo, em direção ao vaporoso claustro
que o encerra, e não o deixa encerrar;
(A sua Dor, o seu Lamento, a sua Condição-Humana)
E negando Sua Fé, por entre os dedos,
ajoelha-se na sua contradição.
Já finado, retorna à Terra,
Derrotado e derrotador de seu absurdo
que vai além do indenominável,
Torna o rosto em sua expressão fatídica:
"Por favor...!"
E escorre, como se do peito aberto,
aquela ausência que o faz girar
para que não seja visto,
Para que Reveja, refletido, a Luz que não se apaga,
E constate, em espanto, sua fonte.
A luz está contida em seus olhos.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Canção ao Einhleuchtend

I

Estive doente todos estes anos.
Estive doente, e também você;
Estão doentes, os homens, todos os dias
e não percebem, enquanto o veneno se
alastra por todos os membros.
À noite tremem reumáticos os ossos,
doravantes aos respingos frios da chuva,
Sem saber para onde vão
no momento em que encontram-se escondidos;
Os homens doentes se encolhem de medo.
Não percebem que a questão fundamental
é o valer; e não o valor.
(que incumbido é à Vida
quando ainda podemos pensar nela)
O Resto, não passa de joguete,
Criação, brincadeira infanto-juvenil
de Seres que esqueceram-se.
E fazem dos outros receptáculos
de seus sentimentos frios, e de
seus instintos mais sórdidos.
Esqueceram-se, e esqueceram de esquecer,
Enquanto, recordam os seus amanhãs
tingidos de sangue, cinza e gris.
Apagados, os homens-oblíquos vagam pelo Tempo.

domingo, 19 de setembro de 2010

Prelúdio às Canções ao Einhleuchtend

Me desagrada o ceu dos superficiais!
Me desagrada, terno amigo,
este azul esvaziado e sem sentido,
em que os comuns deixam desejos,
e desgastam com preces
seus suspíros em forma de nuvem.
Desagrada, meu caro, essa tua forma de Avenida,
que atravessa sem passar por dentre
as casas, deixando de lado as correrias,
os risos, os lábios que se tocam
ao chão... E os ignora!
Como se em ti não houvesse a curiosidade,
latente sentimento, que toma à forma
de fagulha, o coração dos pobres homens
que enlouquecem, disfarçados,
o seu desejo de conhecer;
Esquecendo, é claro,
que é império da criação,
cuja a forma de argamassa a acinzenta
e dissimula, sem que tu,
ignóbil desamante, perceba!
E daonde vem estes teus olhos,
castanha escuridão que braveja
e rompe a obtusão do Azul?
E a interrompe com tempestades
para depois as deixarem-se despir!
....Em seu nulo, em seu nada,
....em seu convite ao ínfimo...

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

About The rain

Favor clicar na imagem para ler o poema ampliado:


..............................................."Límpida alegria de SER, quando chove e deixa-se molhar".


terça-feira, 24 de agosto de 2010

Elephant Gun

Bebo como um miserável
Em busca de algo perigosamente inalcançável.
Bebo, apenas.
A suja fumaça do cigarro embala
Uma canção interminada,
Um caminho interminável
....................que se dissolve
......por sobre meus olhos
................até onde
.....................não consigo alcançar.
A palavra por si só me basta: Mas não apenas.
É preciso o fogo, a agulha, o trovão...
...............O isqueiro que ascende por inteiro
........o meu etinerário,
.................o meu precipício
.............................minha dissolução.
Um telefonema mal respondido
....E um caso completamente inacabado;
Enquanto isso,
............eu piedosamente me embriago,
......Mas sem nenhum sentimento de resolução
...............ou compadescência,
.....................somente a consciência plena de que nada adianta
............E nada retomará ao seu antigo lugar.

Como um suicida que se deixa seduzir pelo cano gelado
Ou pelo gosto intragável que se alastra
...................................dentre sua garanta
.....................caio, solenemente, como uma pluma
.................em meio a uma viela não memorizada
............................uma estrada embasbacada
........................um meio-dia que nunca há de se cumprir...
....................Em pleno amanhecer desesperançado
................que nada espera, se não, a ressaca que vem
................................................das ondas que nada trazem,
........................a areia nada resigna
.................................e apaga os passos já dados;
.....Esta noite, bebo para morrer... Esta noite,
....................................e apenas.

sábado, 21 de agosto de 2010

A Noite [Deformado pela preguiça]

A Noite

"Like an actor all alone".
(The Doors)

A noite cai como um chiste

Como um flerte que não faço
à ninguém,
Como uma tormenta,
Uma chuva que me alegra.

Há um assassino na noite,
mascarado,


E não obstante,
a rua encontra-se deserta.
Há fumaça no céu,
evaporação e sussurro:

Meus próprios passos parecem me seguir;
Imperdoáveis e dissimulados,
tomam a força do mar para si.
Encontro-me com o estripador,
Sua máscara (sem face)
emcobre-lhe o rosto.
E não há como lhe mostrar.
Entrecortamo-nos.
Sua presença, vulto das 3 da madrugada
Se dispersa em meus olhos.
Nesta noite,
Não há ninguém além de mim.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O Ser (e a Fumaça)

..........................................................A Octavio Paz, em póstuma homenagem


Não... Este caso não é verídico. E não, não deveria nunca ter sido narrado: O que aconteceu deveria ser deixado preso na retira dos presentes, e daqueles ausentes, que se cravaram dentro daquele instante. Não, isto não é real. A realidade como o senso comum conhece não se aplica a tais condições, e no entanto, este é o mais próximo da realidade que se pode chegar. Uma subjetividade distorcida e dissonante, que ressoa como música de guitarra em alta amplitude por entre os ouvidos desprotegidos. O que foi feito desfeito não será, e no entanto, se multiplicará de acordo com a perspectiva em que se observa. Acima, apenas a lua os vigia.

Caminham lado a lado dois corpos, estrelas obscurecidas pelo brilho ofuscante da rua. Caminham, sem nomes e sem pesares (aprentes), como dois astros que se acompanham em meio à uma constelação de anônimos e indivíduos. Cantarola-se à noite uma valsa, um samba, uma música rara e qualquer, que se comunica sem saber com o satélite claro que os observa. Branca, a lua, os ilumina em sua profusão de assuntos, feridas que se alimentam, e aumentam, através de um sangue que verte neutro e quente, e se torna tinta fresca por cima do chão de asfalto.

Dois corpos, em meio à um deserto de pedra, concreto, prédio, pedregulho, uma sonoridade diferente de um dos habituais. Muro que se parte, e se renova, construção levantada abaixo do céu, e que no entanto, parece o tocar e ferir. Como uma agulha ou alguma outra coisa, que o perfura e penetra, sem no entanto, desta vez, o estrangular em sua profusão negro-estranha-e-azul. A paisagem se dá como uma fotografia, ou um desenho de muito bom gosto, feito por mãos indubitavelmente habilidosas, que não deixam escapar em sua abstração nenhum detalhe. A noite se vai assim, clara e perfeita, como num conto...

- Sabe? Eu estou emocionada... Disse um dos corpos, cortando o silêncio como relâmpago.

- Com o quê? Indaga o outro, com uma voz mansa, respondendo em seguida, como um clarão.

- Eu não sei... Eu não sei... Só sei que estou. E responde em eco como um trovão que segue e soa ao longe, sem no entanto, se importar, se avisa de fato, ou não.


A imagem os toma como numa tela de cinema, possuídos pela arbitrariedade visual que os pondera, se entreolham, se imaginam, figuras incondicionavelmente desconexas, mas que neste instante pertencem ao mesmo quadro, e sem ferir, completam-se sem maior estranheza. Tons terrosos, e quentes, e negros, e frios, se punham na mesma tela; Se harmonizavam com uma graça exemplar. Eram assim, dois corpos, enfileirados, frente a frente, pictografia que se rodeia com a câmera bem apontada, e no entanto, nunca suficientemente próxima.

Andavam pela grande avenida, direcionando-se à um lugar comum, à contra gosto, a contra-senso, contra, e a favor; A noite os guiava com sua brisa fria, e os direcionava à uma estação qualquer, embora bem definida. Se abraçavam e se beijavam ao rosto, como bons amigos, e bons irmãos, enraizados nas entranhas da noite desfigurada, que os proferia a caminhos tortuosos, e ruas mal habitadas. Enraizados, acima de tudo, mantinham-se firmemente a caminhar entre sotaques, e sustos, imprevistos não avisados, e não acostumados a acontecer. Trocavam palavras de teimosia, e sinceridade, risos, brisas breves, brigas sutis, que os faziam sorrir, logo em seguida. Com os dentes à mostra, mas nunca ameaças. Era a noite quem os observava. Não eu, não os transeuntes, não aqueles que do outro lado da rua despediam-se da cidade e preparavam-se para saltar ao ônibus, ou tomar um lugar apertado no trem. Era a Noite quem os comtemplava, enquanto os braços se apertavam, os risos se trocavam, e subitamente, os lábios se tocavam. Era ela quem se regojizava, neutra, por aqueles dois corpos, que em meio à multidão distonavam com sua inefabilidade.

-Calma... Disse ele, rindo-se.

- Desculpa, problema de intensidade. Respondeu ela com um rubor no rosto, suavemente, entre a timidez aparente, e séria.

- Não, tudo bem, não é problema de intensidade, é problema de intensidade na Central...


E assim, esquecendo-se da multidão ao redor, se dependuravam por entre a imensidão que os cobria. Dois corpos. Conversando-se, explicando-se, deixando-se, ainda que por um instante, se dissolver. Nas ruas da avenida, e da grande estação que ligava o coração ao Brasil; A espera de uma condução que sempre tarda. Pulsando como fogo, como o comboio que trepida nas linhas férreas dos trens, como a palavra que se profere inesperada da pena forte do poeta por cima da página em branco... Dissolviam-se os dois corpos, frente a frente, enlaçados, petrificados, emaranhados, com uma sutileza breve e nada leve, de quem nunca se põe a dormitar, sem entretanto, sentir a presença indiferenciadora do cansaço.

Eram, naquela noite, antes da próxima parada, dois astros a cair em um céu vazio.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Falsos Haikais e Ferrovia

......................."Anjos sobre Berlim
......................."O mundo desde o fim"
.......................E no entanto era um SIM
.......................E foi e era e é e será sim".
..............................(Caetano Veloso)

I

Estrelas cálidas sobre o jardim
O Mundo, desde o fim:
Um trilho que nunca para.


II

Derramam sobre os trilhos qualquer coisa linda
Que não é fogo, que não é lava, que não é brasa,
Antes é fumaça, estrela fugidia
que se esconde por entre as nuvens e por dentro do asfalto;
Num bule de café se perdura a verdade quente e amarga
Com alguma coisa de ácida e forte.
Antes havia uma corrente onde hoje é coração.

III

Yasujiro Ozu,
Tela em preto-e-branco
Suspiro que nunca cessa.

[Sem número]

A canção toca ao longe,
E a noite, a terra desolada.
Disseram que por entre as sombras
se esconde o perigo,
no entanto, eu nada vi.
Recobro o instante e observo novamente:
Há apenas um lago entre-coberto
por algas e azaléias,
Visco preto que se sobrepõe à imagem;
Adianto. Sem recuo, sem regresso,
Aprofundando o olhar na treva desalmada
Cuidadosamente vejo meu rosto sobre o abismo.



quarta-feira, 28 de julho de 2010

Impompitude - Retrato Cotidiano Cinza

Rapazes, preocupados com o tamanho de seus pênis
E o quanto não cabem em ninguém,
Ralham seu ego ferido por entre os orifícios
E se entregam a vitórias insatisfatórias;
Para eles é sempre de manhã,
Um atardecer trúculo e cinza
Que não encontra nenhum motivo, se não,
A clara aridão do branco:
Um gozo que nunca virá.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Comtemplam-se [Sem Titulo]

Comtemplam-se.
Comtemplam-se as duas noites erguidas
Escurecidas uma à outra
Pelo cigarro apagado, e a mesa
.........................d
......................e.....r
.........................r
...........................a
....................m..a....d..a
........................de café.
Observam-se imaculadas pela sombra
Como quem observa a um inimigo, ou então,

.........................Um amante.
...E bailam uma valsa de música popular
..... sem passos certos, sem passos tortos,
..................................................sem passos, afinal;
....Instante de giros, baioneta, baião, giratória...
..Sons que se dissoam, e distonam
.................................por sobre o prédio de madeira,
.............a fotografia nunca tirada
........................a noite nunca acabada
.......E a manhã.............................que nunca se recupera.
.......................Comtemplam-se:
.............................Os instantes despercebidos.

terça-feira, 6 de julho de 2010

(Des)Classificação

"Tanto o Leitor, quanto o Poeta, têm de escutar o Vazio, desaventurá-lo, desfigurá-lo, sem jamais tapar os ouvidos, que atentos sempre devem estar ao som do Nada, que se levanta e se retrai, para que assim, se descubra o caminho por onde tateante segue..."


O que faço não é filosofia. Sou uma imagem não pertencente às estruturas, às academias empoeiradas, janelas semi-fechadas, e silêncio soberbo, cego em falsas razões. Mas também não sou poeta, meus versos cantos tortos que não sabem falar de amor, e muito menos elevar a vida, não são vinho, deleite na boca açucarada, refrigério ao corpo enclausurado; meu verso é aridão, concreto cósmico. Sou um mestiço, sem pátria ou nome, vagando por entre um deserto tenebroso que me fascina com suas luzes fátuas, que vem de seu interior entranhado.

Não tenho lugar algum, meu espaço, vazio inoculável, se estende até depois de meus olhos, que mal enxergam à distância. Minha pátria se forma na ausência, profundidade que se constrói nas paredes de minhas artérias e se funda em minhas células originárias, como algo que se forma em discurso. É uma re-invenção metamorfa que se formaliza a presença que só se vê quando se abdica a esperança e toma a grandeza do pensamento para si; E então treme-se com a pólvora entre os dedos.

Neste momento, eu não me sou: Já não sou mais eu! E entendo a ferocidade dos tecidos anteriores, panos fundados entre as trevas do interior humano, enterrando-se na parte mais dura e gosmenta do cérebro e do sangue: Pensamento cinza e aterrador, que torna todas as cores possíveis; vivas ou mortas. Cores que alimentam as presas de aço e os olhos de besta, e apossam-se do corpo, matéria frágil que se constrói monumento infinito e passageiro...

Sento-me sobre a bancada. Ao meu lado homens discutem os problemas de nossas épocas, formando teses e teorias que tentam organizar as nossas dores mais sutis, lustrando nossos grilhos, fingindo assim cingir a fechadura, sem no entanto, não fazer nada mais do que dar nomes e mais nomes, sem se dar conta de que nomear é criar, e tudo é invenção. Levanto calmamente o meu rosto, o vento abafado se arrasta do norte e me beija e morde as bochechas. Meus olhos lacrimejam com a temperatura que se eleva, e olho adiante. O cheiro de vinho apodrecido se instaura em minhas narinas e as faz arder. Ao longe, Outros bebem, embriagam-se em afogamentos de glórias e derrotas, rindo alto em seu delírio atemporal, como um sonho que foge do controle. Para eles, apenas consigo sorrir piedosamente, porém, ausento tirar sequer uma nota de escárnio desta gargalhada insonoramente afiada.

Levanto-me e olho ao ermo. O deserto se instaura em mim, e eu tomo parte dele, sem no entanto, dissolver-me por completo. Continuo a vagar, o vazio sussurra em meus ouvidos, e o esquecimento se enverga em minhas orelhas, falando-me segredos de eras remotas, e de labirintos sem saída: Começar a partir do Nada e da perda, e instaurar-se entre as estrelas.

(A negação de toda a existência dentro do enfoque de toda a permanência)

Desconstrução Perpétua que se faz contínua e derruba barreiras postas à beira-mar, trincheiras desfeitas nas costas da praia, construindo, com os respingos das ondas, partitura de música mecânica, levando além o som de todo significado, sem nunca, em questão, se finalizar. E eu, sem lar, nem rumo, vago através destas pausas e ritornellos, sem procurar saída ou fundamento, apenas contínua audição da música, desfragmentando-me em nota surda e dissolvendo-me entre os ouvidos mortos, que por sua ousadia, pagam com a vida o preço de escutar as notas infinitas; (e ainda pior, de ajuda-las em se compôr!)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

[Sem Título]

- Olá! Posso te ligar
.....(Para me lamentar) ?
Não, claro que não... -
....Você está ébrio;
...Sempre ébrio... De absinto,
de vento, de nada, de Sol(#)
....- Ébrio, estou sempre ébrio,
.......de mim, de sim, de não.
....Ébrio, ébrio, ébrio...

E a noite continua como um chiste.

sábado, 12 de junho de 2010

A Long Bay Dawn

There's a bay in the world,
There's a bay in my heart
Where the waves hit hard in the rocks of soul,
keeping distance from the wild highway
that forgets itself,
And remembering when the horizon is
for everything and where is that limit-line;
Because there's no only rock, no only sea, and no only sky...
There's these three together,
And looking down, without fear, we see where everything begun:
A dawn that farewell from us;

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Indagações Sociais

Dentro do pensamento parte destes escritos foram perdidos, mas isso não importa...
Palestras, aulas, carteiras, Professores... Transitam abaixo de mim, e ao meu lado. Não importa. Transitam, e isso lhes basta.
No primeiro andar o professor passa pelo corredor, de vermelho. E o que isso tem haver? As cores continuam as mesmas e se mesclam umas nas outras, enquanto eu, me apavoro. A solidão se instala em mim. Entretanto, não como tem se instalado ao longo destes anos. Estou sozinha e o que me amedronta não é o fato de não conhecer os outros, mas de que talvez alguém possa vir falar comigo.
Vou ao banheiro e recuo, ando pelo corredor de um lado para o outro, e num ímpeto de coragem tomo-me e entro. Olho cautelosamente para as paredes, há escritos na porta de madeira... Não são os costumeiros maldizeres que se apossam comum-mente em forma da grafite a tinta clara; São indagações sociais como a constatação deste poema. Revolta de quem se encontra inserido e revolto dentro de um turbilhão de olhares tortuosos, força que tenta esmagar e expelir aquilo que aos outros provoca temor, e por isso asco. Vírus estético provocador de desajuste ideo-visual; Quero lavar o rosto. Minhas faces estão coradas pela vergonha que se apossa de mim. Algo em mim se incomoda neste edifício. Perturbarei eles com a minha pequenez? Não... Pequena, não... Mas há algo em mim que os afasta e incomoda, como se os olhares transformassem-se em dardos em minha direção... Atrapalharei eu sua ordem usual com a minha poesia, ou ao menos, com o meu cheiro de noite enraizada? Talvez... Melhor, incomodarei eu a eles com a minha violência? Mas esta não é a questão. (Então, qual é?)
Estou com medo e por isso escrevo estas letras tortas, mas a consciência do medo o torna diferente... Estar apavorada, e isso não me basta, por que prossigo dentro desta academia.
O Professor passa por mim e não o cumprimento, ele também não faz questão e não me reconhece, deixamos por isso mesmo. Ao longo ele fala com um homem e eu os observo.
Observo tudo deste terceiro andar.

Relocam-se os corpos na sala de aula, e eu tremo e evito a vontade de fumar. Um corpo estranho nas entranhas do desconhecido, e esse sentimento que se apossa branco, sem saber, de minhas faces e fomes. Não posso correr e não quero. Fazem cotas da vida os idosos sabidos, e minha caligrafia se distorce em suas faces em fronte ao titubeio. Tenho calor e sede. Tenho água fria e café amargo, mas nenhuma vontade de beber. Pessoas comentam sobre avaliações e, perdem-se na plenitude do discurso...

......................................................... 12-5-2010

Condensação

Tudo é um. A fumaça do copo de café quente se condensa à fumaça da evaporação deste cigarro. E eu não consigo me concentrar. Pedir desculpas e licenças para entrar e sair das portas. Todas elas fechadas, e agora, mais que nunca é preciso ser forte. Invenções sobre o concreto das leis físicas. É preciso ser um engenheiro e um arquiteto. Na vida tem de se ter os olhos sériamente abertos e os ouvidos atentos. O silêncio pertence às almas elevadas, e tudo não passa de um efeito mental.
"Eu sinto muito, eu sinto tanto... Eu nada sinto..." É tudo um percurso imutável: Estudar, trabalhar, suportar a vida... Não posso ceder à dor do desespero, e é preciso transformar a Arte em um monumento. Corpo, voz, palavra, som, e ação. Criação máxima da dor-de-cabeça humana. E eu não passo de um colecionador de favores. Até os nomes que me dão são favores dos outros em me depositar uma identidade. Doação trágica e sem sentido àquele que faz de si Nada e absurdo.
Sátira e riso por sobre a fechadura, finge que se lê e finge-se que se aprende. Tudo não passa de desvelamento, ocultar-se e mostrar-se no instante necessário. Não passamos de animais com instintos perigosos. O perigo de querer saber, e achar que têm a consciência de que se sabe; sem consolo ou momento de maresia. Tranqüilidade que finge-se de céu. Apaziguamento inalcansável. "Só fingir..." E se excusar.
E o vestígios ficam acumuladas no fundo do copo, onde nada se tira e nada se põe, resto de sentimentos, fragmentos saturados dentro de um poço da infinitude. Corda de escape úmida e frágil. E ainda assim, essa necessidade de outro e de toque, sem deixar que se aproxime desta caverna cheia de ilusões e cautelas. Fragmentos desconexos de pensamentos dexorados. Neologismos de minha lógica poliglota de um corpo só. Multiplicidade enclausurada em Um.
E o som das risadas que parece chegar a ferir... A solidão da necessidade de silêncio sem quietude. Uma terra estrangeira para um eterno estranho. E as pessoas são todas assim: Sem igualdade ou familiaridade.
Escuridão de sala de cinema. Espera atenciosamente da tela uma saída, e essa vontade de vomitar que me toma e assalta. Por mais que eu pense o contrário, eu QUERO VIVER. Com ou sem mar...
Gosto de bota e solas de sapato, ressaca de vinho sem sabor. E então, eu me ausento e me anulo. Torno-me nota em pausa e desapego. Partitura rompida ao final...
Tudo é Um, e o Nada é (sempre) parte de Tudo. Desgregamento psicossomático de Ser.

.............................................. 14-5-2010

domingo, 6 de junho de 2010

Deixo-te

......."Deixo-te a Poesia. Deixo-te todas as estações, principalmente a primavera e o verão..." (Satyricon)

Deixo-te.
Sem mais esperanças nos pés ou nas mãos
Deixo-te...
Junto com o vento da madrugada
Junto com o cordão e a calma enlatada
Junto com as horas de tédio e tremor,
Deixo-te...
Desacompanhada, na noite fria,
Luz de claraboia mal iluminada,
Paralelepípedo, e estrada beira-mar,
Sem nada nos olhos secos de asfalto,
Se não, uma lua entreaberta, e sal;
Deixo-te, querida,
Ao som do chello e do teatro vazio,
Ao som dos passos e da juventude,
Ao som das tardes movimentadas e da solitude...
Deixo-te:
O som de uma balada Pós-Romântica.

(Ralph Wüf - Junho de 2010)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

A Means to an End

......................"Um amor morre, Rafa. Demora a morrer, mas morre".

...E essas palavras ecoam em minha cabeça tal como um mantra. Um refrão repetitivo em Delay que corre e recorre em meus ouvidos... Um desejo incomodo que remói e corrói lentamente de dentro para fora, matando de cansaço e não de dor angustiante.
...Perco a cabeça e a concentração; as tormentas se instalam em minha memória, e toda a noite se põe a chover em condenações e lembranças. O cheiro de maresia saudosa invade o quarto, e impregna, por dentro, as janelas e os travesseiros, em luz crepuscular carmesim e azul, que torna-se roxa e piedosa, corrompendo e compondo as horas e o pranto, sem maior expectativa, se não este mesmo som que perfura as orelhas e desconcerta, não deixando escapatória alguma, se não, a tentação de desviar o caminho e estourar em cano alto e escuro; Sem dor ou dormência, se não, horror.
..."É tudo vão?" Me pergunta a voz infantil em olhos claros e serenos, com sua tristeza, própria, de subúrbio e de bebida barata. Fonte rápida e efêmera de prazer.
...Eu de imediato não consigo responder. Não.
...O amor não é vão, muito menos em vão. É o sacrifício de se permitir conhecer e conhecer o outro, dissipar-se em Outro. Deixar-se dissolver-se líquido dentro de um corpo que não é seu e que passa a ser. É abdicar à Unidade e tornar-se dois, multiplicidade cognitiva vinda de uma união sem sentindo, possuir direitos de eternidade e saber-se efêmero. Passageiro de barca desencarnada. Não, não é em vão. Mas vão é esse cansaço, que nos faz recuar barreiras, tremer diante a distância, e apavorar frente às incertezas que antes faziam-se leis de mármore.
..."Quando se aprende a amar, o mundo passa a ser seu". Ter o mundo em mãos e depois desfragmentado em problematizações sem razão aparente, e se deixar consumir pelo cansaço e pela solidão, em descompasso desperdiçado. E ainda assim, ter a certeza de que tudo foi necessário, e ainda por cima, bom. O problema é o tempo em que se conjuga a ação. É ter letras cobrindo a pele, e evaporando em cigarros vários e vinho derramado. Gosto acre na boca, e sem-sabor.
...Uma vez provei de meu próprio sangue e ele era amargo, com notas de plasma invertebrado e fugitivo, no qual também era quente e picante, como o fogo que arde nas entranhas do Nada e do absurdo, como a chama multi-color que queima em pupilas ferinas e contorce-se em seu gosto explosivo de metal, e açúcar, e sal.
...Não... A eternidade queima em meus olhos. E neste quarto resta apenas o frio morno das tardes de dissabor, das madrugadas em braços firmes, e o som suave de sua voz chorosa em meus ouvidos sem sexo definido. Uma vez você me disse que era preciso ser forte, e em seus dedos eu vi a fragilidade das teclas de piano. Sem satisfação, me abraçou entre sorrisos rubro-escurecidos, e me disse que tudo estava bem. Eu tremi e chorei.
...Agora desabo nessas terras de concreto, com essa brasa que se acende e se apaga, ascendendo esses cantos sem direção alguma. À lua, sem destinos, deixam os profetas do Fim-do-Mundo; e sem reação desapareço. Desenterro seus ossos e me desapego; Você não me aponta nas estrelas a direção. Sem caminho, vago como um louco, com um anagrama preso em meu labirinto interno (as entranhas malogradas), e deixo na face do esquecimento sua memória. Beijo nunca dado.


quinta-feira, 13 de maio de 2010

Despetalar [Flores da Memória]

Despetalar

................ A Verena Duarte

Despetalar a flor de seu coração;
Deixar que as pétalas caiam, subtamente,
Dentro do copo translúcido
De seus olhos límpidos,
E sentí-los profundos e suaves
Como o vento frio da neve,
Que adentra intensamente, como fogo,
Que de tênue faz-se ardente,
E relembra na ausência: o sentir.

(8-3-2010)

terça-feira, 4 de maio de 2010

"Carrego nas mãos um fogo que queima..." [Sem Título]

Carrego nas mãos um fogo que queima
E se alimenta de mim,
Carrego nas mãos um fogo que queima
E me alimenta de dentro para fora,
Carrego nas mãos um fogo que queima,
devora, delira, dilacera;
Carrego nas mãos o fogo
.......................das palavras Inauditas.

Diálogos - Breves Divagações II

Breves Divagações II (26/4/2010)

- Por que você, que é tão Você, aceitaria ser outro?
Os olhos suspenderam-se um instante, aprofundaram-se no olhar do interlocutor e se elevaram para o nada além da janela, suspirando silenciosamente. Apertando as mãos contra o corpo.
- Pois quando estou em cima do palco, eu já não sou mais eu; Sou um outro, qualquer, sem forma, sem nome, uma voz que ecoa sobre a partitura.
Disse ela solenemente.
- Então, és uma dissimulação?
- Também, mas acima de tudo um Não-Eu; Uma parte plena de qualquer outra coisa, se não, o Todo.
- Ébrio...!
- ...De si mesmo.
Disse com os olhos voltados ao grave interlocutor, sorrindo com suas íris de trevas; Rangendo com os dentes como lâmina, apontando o acerto precisamente desferido.
- Διονίσοκολαξ...? ¹
- καὶ ὐποκριτήσ. ²

*¹ "dionisokolax" - era como eram conhecidos os atores na grécia antiga, "aduladores de Dioniso", deus do Teatro, do vinho, e da Fertilidade.
*² "kai hypokrités" - E hipócrita. Palavra usada para designar também os atores na grécia antiga, com uma tradução mais profunda: de "existência" escondida.

Ponderação [VISUAL]

.......(Experimento nº XVI "abaixo-secular)

Right = Wrong

...(Que são estes?)

........Vozes que se partem.
Cantam meu nome...
.........................Em algum lugar
.........Onde há apenas
........................Caminho
....................................(e Abstração)

Sem ninguém
................nem espera
....apenas a sombra
...................de duas asas
....Negras. Noite-Sombra.
...................Clarão da divisão.
..Conceitos expurgados,
.................Frágil
..........................Libertação.
...(Onde sentido se perde.
......Onde não há compreensão
...Dentro de uma rua escura,
......Sem aglomeração. Veloz cadência
.........Da madrugada
............................que
..........Se parte).
.....................Torna-se Uma.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sobre o Nada (E talvez, quem sabe, sobre a condição humana...)

"Ir além do Vazio". Seja do mar pós-medieval europeu, seja da capacidade humana. É preciso atravessar, além da dor, o "bojador". Não adianta fixar-se em terra por medo de morrer no Nada. É preciso encarar o Nada e sussurrar risonho aos seus ouvidos. Não há maior arrogância do que esse sentimento de grandeza efêmera que há em ser Humano. Esse formigamento existencial, desconforto que não dura mais que segundos, e existe apenas para si; e no entanto, ousa acreditar haver para as estrelas. Grande ladrão de fogo, e assassino de sombras e fantasmas (criados às vezes) por si mesmo...! Quanta arrogância e quanto trovão há em seus olhos, moléculas acumuladas de mecânica não-pragmática.
É preciso conscientizar-se da sua numerologia, sem nome ou forma verdadeira, apenas número que se soma ou subtrai dentro de uma grande equação de lógica duvidosa; E olha como falam de amor tão docemente...! A estatura humana dentro de si é patética! Escondendo-se dentro de suas construções, quando apavorados e conturbados, querem fugir de tudo que é humano, e como tal, dissimulado e modificador. Mas já tão domesticados tremem à idéia do descampado e do relâmpago, recusam-se a viajar no Nada de suas Vidas, e apegam-se furiosamente às portas de seus apartamentos escuros e mal iluminados, cheirando à poeira de jornal envelhecido, e pão mofado de dentro dos armários desgastados pelo tempo, como se nunca houvesse tido alguém ali.
Olha como correm! De um lado para outro, como baratas tontas e formigas trabalhadoras... E eu? Ah, eu rio. Imerso na parte mais suja e hipócrita de mim... Eu rio com olhos de sombra, pupilas de quem PROCURA o Nada!
No entanto, é preciso reaver a calma, sentar-se solenemente à mesa de jantar e encomendar um café, "Sem açúcar, por favor!". E observar tudo: De dentro para fora, de fora para dentro. Sorrir, chorar, tomar notas e aborrecer-se fielmente, impregnado em meio à massa de concreto, mas não há lugar mais exato para se encontrar o rastro do Nada e do desconhecido do que no meio da multidão. Em plenas ruas atoladas de corpos sem sentido, e sem sentido porque desconhecidos! Mundos, vastos ou pequenos, ainda são mundos. E ainda assim, há a Solidão. O lastro olfativo do Nada, que entrega aos poucos escolhidos que provem da coragem necessária para o/a buscar. Encontrar? Talvez, ou se não, Jamais!

"É uma viagem pela escuridão". Diz o homem sobre o sentimento do nada. Achou que não ia se viver mais. Achou que a morte, "Grande-Irmã", iria encontrar-lhe do outro lado do Sono, poço de treva e mistério que estava inserido. Mas não! Ele recuou, teve medo, e encontrou-se deitado em sua cama, dentro de sua casa de campo, no interior. Nada daquilo passou de um pesadelo. Um pesadelo desesperador. A porta range, e as páginas dos livros abertos sobre a mesa farfalham e viram-se com a presença do vento. Cena final de um filme de má qualidade.
Não há animal mais egoísta que o homem, e ele assim o é porque pensa. Pensa e têm consciência de pensar, e acha-se único por isso, e por ter ciências! Experimentos bem ou mal sucedidos, que lhe surgiram para encher o εγώ! Seu grande Eu incondicional e mesquinho. Desconhece de seu cérebro as entranhas e ousa achar que conhece o daqueles que não são iguais a si. Tendes línguas? Tendes pátrias? Tendes sistemas e epistemes? Eu tenho campos abertos, eu tenho a minha loucura! E mesmo assim, esse pronome intransferível e poético chamado Eu. Referencial de primeira pessoa. Incandescência negro-oscular que supera o coração do centro das cidades, e o faz multiplicar-se em bilhões de outros centros, pontinhos ordinários que se auto-denominam forma silábica e principal.
Não, não... É preciso ter o Nada cravado nas veias, e fragmentos de imagens dixoradas na mente. Não...! É preciso estender os olhos da razão para além dela, e como o grego "superior", personagem daquele de ombros largos já dizia, é preciso saber que nada se sabe. Pois, ver, consiste em não pensar. Sentir. E saber consiste em ter a consciência de que o Nada (que também é Tudo) é maior que nosso egocentrismo medíocre e presunçoso. Quando estivermos prontos para encarar os deuses de frente, e armados, preparados para matá-los, tornaremo-nos verdadeiramente Um, e poderemos então encontrar de olhos sãos(!) o Nada. Verdade Universal e desconhecida.

Antes de ir, um adendo!
Passai a chave em minha porta ao sair, leitor! E por favor, apague (silenciosamente) a luz!

Com um riso entre os dentes...

(R. Duccini & Ralph Wüf - 3/5/2010)

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[Um dueto inesperado...]

terça-feira, 27 de abril de 2010

Diálogos - Breves Divagações I

Breves Divagações - I (28-06-2009)

- Vocês filósofos são muito pragmáticos...
- E vocês, artistas, são muito livres...
- Você tem medo da liberdade, não tem?
- E não é isso que corrompe o homem? Essa busca intensa por ser livre sem nem ao menos saber o que procura... Sem nem, ao menos, saber que é impossível...
- Então você tem medo de se destruir. É isso que me parece...
Disse Morpheus com os olhos severos e brilhantes, como o de um arqueiro que acerta em cheio um alvo veloz.
- Mas não é isso que faz o homem agir com dignidade perante a sociedade? Evita-se destruir para evitar ser destruído...
- Mas não é a sociedade, que tornando incapaz, o homem, de ser algo que lhe é próprio, o torna infeliz?
- Há essa alternativa... Porém, não é a falta de maleabilidade do homem inapto à sociedade, que o torna prisioneiro de seus próprios ideais?
- E não é papel da Filosofia libertá-lo?
Neste momento Wilhelm ficou em silêncio e olhou fortemente para o homem que o indagava, a boina desajustada à cabeça, a camisa de linho branco semi-aberta, os olhos ferozes e sorridentes que o indagavam incessantemente...
- Parece que estou certo, não?
- Este não é um caso de estar certo ou errado, e você sabe disso...

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domingo, 25 de abril de 2010

Urbanismo

A paisagem urbana me distorce e me estrangula, dormente tateio de maneira descompassada a origem. As metáforas se embolam dissonantes às letras, e se afastam de algum sentido superior. Na superfície me entre-olho; seus são negros e ocos, como o mais profundo mar de estrelas encobertas. Respiro fundo. O ar nada passa por entre a película invisível que cobre meus pulmões, e a noite se dissolve em cacos de neon: Vidro fosco e florescente que respinga líquido por cima de minha cabeça, e sob meus pés, desenha inacabada uma manhã.
Entre-abro os passos pela garganta engolfinhada da cidade, ela me permeneia e me encobre, tornando-me inseparável de sua matéria fundamental, e principalmente, irreconhecível. Não me distinguo, e apresento-me ao Nada de maneira insincera. Insensível não sinto a dor da lâmina perfurar o meu peito, a pólvora e o cabo me transparecem, entretanto, sem nenhuma limpidez. Eu me recosto e desapareço. Ressurgindo, no entanto, úmida e afogada 'num copo de cerveja, que política, me bebe muito bem. Espremendo-me com suas mãos fortes, calejadas, mas, no entanto, enuviadas por uma luva de concreto. Digesta, percorro sem a certeza de um corpo, e me ponho no alto dos arranha-céus, tal como corvo ininteligível por entre as sombras; Grito impropérios e palavras de ordem... Atirando logo em seguida.
Bruscamente me interrompo: Esta noite, (acima de tudo), serei nua e crua, como as entranhas do Rio de Janeiro.

sábado, 24 de abril de 2010

Balada Marítima I [Entre o Poema e Ipanema]

Balada Marítima

I

"Basta em si apenas/ Suas metáforas e mecânicas,/
Dissoluções verde-olhar/ Que penetra(m) em espuma/
Os pés que se transmutam/ líquidos, e se dissolvem/
voltando à forma originária/ Onde Tudo é Um."

Só, o mar é pleno.

Emanto o corpo e a corda
Que desfragmentam entre braços
A suave canção que me aninha.
Sou arremessado
Entre rochas e Vazio, enquanto
inerte de qualquer ação, se não Céu.

Não me empenho em lutar:
aceito a água como se aceita o sol em dias de verão,
......................[como se aceita o verão em dias de sol]
Sem tormenta ou exaspero,
Apenas regozijo brando e branco,
E então, esqueço-me de tudo.

(Não pensar se torna o princípio de tais coisas)

Na ausência se instaura: O sentido,
Segundo frígido e frágil,
Em que tudo torna a acontecer
De maneira inesperada e mecânica;
Como as ondas, que se chocam
E me alimentam com sua força e violência,
Rodam dos reglógios os ponteiros,
Ossos que explodem em engrenagens
E tornam-se se não areia,
Fina calidessência do mar e do pano
Que cobre o tempo e o cosmos.

Sem que eu possa ter sequer reação...
Fecho-me os olhos,
..................................deixo-me afundar...



(...)



Abro os olhos e acalanto,
Ultramarino decomponho-me em sal.

Beijada é minha face sobre a superfície,

Tenho (entre os dedos) uma gaivota;

..............................Em cima de uma pedra
................Com um relógio preso ao corpo
................Desfiguro as horas fugidias e sorrio;
................- Agora eu sei como é morrer no mar:
.......................É morrer e encontrar-se vivo.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Dissolução

Dissolução

As coisas se dissolvem: tornam-se uma
Multiplicam-se unissonoro
E revertem-se em acorde (composto e integral),
Como os raios de concreto,
Como os trilhos da cidade,
Como os edifícios que se levantam agudos no corpo;
- Suave mutação amórfica de Ser:
Capacidade de se modificar
E tornar-se reflexo da noite,
Sombra das estrelas,
Ausência visual de olhos sem cor.

Sílabas cavalgam em forma de espírito:
Uma partitura desenhada na ponta da faca.

domingo, 4 de abril de 2010

Decomposição [Meia-Entrada Prematura na Floresta do Nada]

Decomposição

Resta na noite inconcebível a imagem do Nada. Por entre suas ramas e folhagens neutro-escuras estende-se a luz esverdeada, que permanece dentro-externada em cada um de nós. Meus dedos se alinham nos joelhos, e de meus olhos nada tenho, se não, a visão fugidia de meu interior desfragmentado, opaco por entre o peito e os ossos cardíacos, que formam uma armadura impenetrável de sangue oco e fétido.
Resta na tarde sonora o sol quente e vazio que expurga e espreme de meu corpo as feridas, querendo me fazer correr caminhos à fora, entretanto me internalizando de maneira doentia e abafada. Me torno translúcido como alabastro, seus raios e sua luz atravessam meu corpo sem nenhum sinal de comoção, apenas um calor morno e seguro que se estende até meus dedos, dissolvendo-os em tinta uni-sonora.
Na manhã, não resta mais nada. Decomposto, apresenta-se dissolvido o corpo e a capa. Acusado, as vibrações depostas da lua deixam-se de ressoar por sobre a silhueta, que imaterial permeneia a imagem em mil vultos multi-mórficos, como sombras de essências que ousam escapar de abrigo íntimo, e se expõem diante dos olhos amarelo-carmesim que se levantam ferozmente. Estende-se a não-imagem diante do retrato, e ressonante se compõe multi-angular nas formas e nas faces, que assimilam-se a si, sem entender, ou saber, apenas aceitando-a como conjunção, que intrínseca se funda no Tempo e no Nada; (pois passando a Não-Ser, o Ente torna-se Tudo, pois deixa de Estar).

domingo, 28 de março de 2010

So, I lit the fire... ♫

Bilhete Incendiário

....................."Apenas os mortos permanecem com dezessete anos".
.......................................(Haruki Murakami)

Fumo o meu cigarro como se traga a vida,
Envolto em seu papel e cinzas
Que condensam a alma e alguma coisa Maior.
Fumo o meu cigarro e ascendo por inteiro
E queimo-me de dentro para fora em brasas
mornas-e-azuis; Deitado não conheço a dor,
Mas reconheço a canção que toca ao longe
Esquecendo-me de um dia me ter chamado Eu.
Sem nada na mente como Brecht, ou Maria, ou Fumaça,
Despeço-me das tardes e dos trens,
Que imóveis cortam o centro da cidade.

II

Me levanto e vou sem direção
À Lugar-Nenhum permaneço no mesmo instante
E me nego (como sempre) da mesma agitação.
Das moléculas incita-se o estranhamento,
Que fogo, torna-se qualquer coisa como Vida
E os Mortos tem os cinco elementos cravados
.........................................[em comunhão.

Não, não me apego a Nada
Se não à evaporação deste cigarro,
Lembrança quente-e-fria chamada Não-Saber.

domingo, 21 de março de 2010

Prelúdio [Para Tin Whistle em Bm]

Acordo sonolento, cambaleante toco-a nos ombros, ela se vira encarando-me com seus olho castanhos-fogo. Olho-a fixamente e aperto-lhe a pele branca, ela segura-me os dedos e pôe-me ao seu lado; Enlaço-a e ela sorri silenciosamente para mim, mostrando-me o anoitecer.
Ergo-me na noite solitária, sua presença se torna qualquer coisa se não o azul da noite e o rastro estrelado das constelações sobre minha cabeça. Respiro profundamente e não mais olho para dentro do Castelo. Estou desperto e vivo; E não mais um escravo de mim.

......................................................Ὁ Ὀνειροσ μενὶασ ἒστιν.


(Ralph Wüf - 20-3-2010)

sexta-feira, 19 de março de 2010

Un-Clockwork

E hoje, algo fora do convêncional...

"Um amor não tem dias contados" [Sem Título]
...................................- Aparentemente...

Um amor não tem dias contados
Ele conta seus dias e adia
o dia de seu derradeiro final
Sem nenhum apego ao homem;

Um amor não tem dias contados,
Ele firma seu corpo na madeira
Que se transforma em prata, e ouro,
e ar, de lábios e para lábios vãos;

Um amor não tem dias contados,
Nem anos, nem meses, nem segundos:
É livre, e por isso a escravidão
Que vem no cravar de sangue da aurora.

Um amor não tem dias contados,
Mas é feito de dedos e linhas
entrelaçadas numa só matéria,
Frígida essência da dualidade mista.

Um amor não tem dias contados
Entretanto, seus dias, contos
de silêncio e lágrima e som
São cantados por toda eternidade.

"Entre ingênuos passos, têm-se dúbios os olhos cristalinos, que se fecham, se enlaçam, e sonoramente se apagam sem nunca deixar de se reverberar e lenir entre o fogo quente e pálido".

terça-feira, 16 de março de 2010

O Feto


Então, hoje, não irei publicar nada de meus escritos, mas serei um pouco mais audacioso, deixarei com vocês, algo em que acredito plenamente, tanto nos integrantes, quanto na idéia do projeto.
Sendo fecundado no ano de 2009, sendo a idéia original da minha outra parte, Rafaela Duccini, e da geniosa, e esplêndida Verena Duarte, deu-se assim, "O Feto", com uma proposta de revista de crítica e divulgação artistico-literária. Juntou-se ao projeto amigos e companheiros de estudo, como PH Wolf, Diego Braga e Rayssa Galvão, integrando e formando assim o grupo de edição.
Com a proposta de divulgação de textos de interessados e convidados, e com um argumento crítico, a revista mostrou ontem, em versão online, sua primeira edição (ainda em wordpress).

Deixarei com vocês o link do blog-revista, que ainda está em gestação. Espero que leiam e ouçam o que O Feto está tentando nos dizer, ainda em seus primeiros passos de formação, pois acredito que quando ele realmente nos mostrar sua face, veremos o nascimento de algo realmente grande, entretanto, ainda ficamos na espera.

Link para o blog: http://www.ofeto.wordpress.com

segunda-feira, 1 de março de 2010

A Moema (Repintada)

Debaixo d'água
Refresca a carne lívida
Que trás subscrita
O sibilo da noite intocada,
Qual mergulha, o corpo
estrelado, que morto dança.

(Originally in english)

"Under the water
Refresh the pale flesh
That brings undertaken
the sibyl of the night,
Untouched, that drown
The body that dance dead".

Abaixosolo

..Segue o metro
.............abaixosolo
....Subto impacto
...............i-material:
.......Negação rastro florescente
..........que inverte o
..............percurso da flora,
............qual penetra na trilha a madeira
................Sem olhos secos de cal.
............Corte: Faixa PRETA
...............Óleo sem sal:
...................Tinta, pigmento frio
..............Que queima o corpo
...............................cheirando a
............................Fogo.

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Devido a incapacidade deste blog de aceitar grandes espaços, e de negar a cor preta em minhas edições de textos esquizofrênicas, por favor, com toda a benevolência, ignorem os pontos.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Tradução - Um Poeta

Um Poeta - Octavio Paz


(Rascunho de Tradução)

Música e pão, leite e vinho, amor e sonho: Grátis. Grande abraço mortal dos adversários que se amam: Cada ferida é uma fonte. Os amigos afiam bem suas armas, prontos para o diálogo final, o dialogo à morte para toda a vida. Cruzam a noite os amantes enlaçados, conjunção de astros e corpos. O homem é o alimento do homem. O saber não é distinto do sonhar, o sonhar do fazer. A poesia pôs fogo em todos os poemas. Acabaram-se as palavras, acabaram-se as imagens. Abolida a distância entre o nome e a coisa, nomear é criar, e imaginar, nascer.
Por agora, pega a enxada, teorisa, seja pontual. Paga teu preço e cobra teu salário. Nos momentos livres rompas a massa: Há imensos prédios de jornais. Ou derrubes cada noite sobre a mesa do café, com a língua inchada de política. Cala ou gesticula: Tudo é igual. Em algum lugar já prepararam tua pena. Não há saída que não dê à desonra ou ao partíbulo: Tens os sonhos demasiadamente claros, te fazes falta, uma filosofia forte.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

De outrem... Torquato Neto


TRISTERESINA

uma porta aberta semi-aberta penumbra retratos e retoques
eis tudo. observei longamente, entrei sai e novamente eu volto
enquanto
saio, uma vez ferido de morte e me salvei
o primeiro filme - todos cantam sua terra
também vou cantar a minha

VIAGEM/LÍNGUA/VIALINGUAGEM

um documento secreto
enquanto a feiticeira não me vê
e eu pareço um louco pela rua e um dia eu encontrei um cara muito
legal que eu me amarrei e nós ficamos muito amigos eu o via
o dia inteiro e poucos conheci tão bem.

VER

e deu-se que um dia o matei, por merecimento.
sou um homem desesperado andando à margem do rio parnaíba.

[...] E por aqui encerro o trecho;

(Torquatália - Do lado de dentro; Cinema. Torquato Neto)

- E eu não respeito nem a bibliografia...