quarta-feira, 26 de maio de 2010

A Means to an End

......................"Um amor morre, Rafa. Demora a morrer, mas morre".

...E essas palavras ecoam em minha cabeça tal como um mantra. Um refrão repetitivo em Delay que corre e recorre em meus ouvidos... Um desejo incomodo que remói e corrói lentamente de dentro para fora, matando de cansaço e não de dor angustiante.
...Perco a cabeça e a concentração; as tormentas se instalam em minha memória, e toda a noite se põe a chover em condenações e lembranças. O cheiro de maresia saudosa invade o quarto, e impregna, por dentro, as janelas e os travesseiros, em luz crepuscular carmesim e azul, que torna-se roxa e piedosa, corrompendo e compondo as horas e o pranto, sem maior expectativa, se não este mesmo som que perfura as orelhas e desconcerta, não deixando escapatória alguma, se não, a tentação de desviar o caminho e estourar em cano alto e escuro; Sem dor ou dormência, se não, horror.
..."É tudo vão?" Me pergunta a voz infantil em olhos claros e serenos, com sua tristeza, própria, de subúrbio e de bebida barata. Fonte rápida e efêmera de prazer.
...Eu de imediato não consigo responder. Não.
...O amor não é vão, muito menos em vão. É o sacrifício de se permitir conhecer e conhecer o outro, dissipar-se em Outro. Deixar-se dissolver-se líquido dentro de um corpo que não é seu e que passa a ser. É abdicar à Unidade e tornar-se dois, multiplicidade cognitiva vinda de uma união sem sentindo, possuir direitos de eternidade e saber-se efêmero. Passageiro de barca desencarnada. Não, não é em vão. Mas vão é esse cansaço, que nos faz recuar barreiras, tremer diante a distância, e apavorar frente às incertezas que antes faziam-se leis de mármore.
..."Quando se aprende a amar, o mundo passa a ser seu". Ter o mundo em mãos e depois desfragmentado em problematizações sem razão aparente, e se deixar consumir pelo cansaço e pela solidão, em descompasso desperdiçado. E ainda assim, ter a certeza de que tudo foi necessário, e ainda por cima, bom. O problema é o tempo em que se conjuga a ação. É ter letras cobrindo a pele, e evaporando em cigarros vários e vinho derramado. Gosto acre na boca, e sem-sabor.
...Uma vez provei de meu próprio sangue e ele era amargo, com notas de plasma invertebrado e fugitivo, no qual também era quente e picante, como o fogo que arde nas entranhas do Nada e do absurdo, como a chama multi-color que queima em pupilas ferinas e contorce-se em seu gosto explosivo de metal, e açúcar, e sal.
...Não... A eternidade queima em meus olhos. E neste quarto resta apenas o frio morno das tardes de dissabor, das madrugadas em braços firmes, e o som suave de sua voz chorosa em meus ouvidos sem sexo definido. Uma vez você me disse que era preciso ser forte, e em seus dedos eu vi a fragilidade das teclas de piano. Sem satisfação, me abraçou entre sorrisos rubro-escurecidos, e me disse que tudo estava bem. Eu tremi e chorei.
...Agora desabo nessas terras de concreto, com essa brasa que se acende e se apaga, ascendendo esses cantos sem direção alguma. À lua, sem destinos, deixam os profetas do Fim-do-Mundo; e sem reação desapareço. Desenterro seus ossos e me desapego; Você não me aponta nas estrelas a direção. Sem caminho, vago como um louco, com um anagrama preso em meu labirinto interno (as entranhas malogradas), e deixo na face do esquecimento sua memória. Beijo nunca dado.


quinta-feira, 13 de maio de 2010

Despetalar [Flores da Memória]

Despetalar

................ A Verena Duarte

Despetalar a flor de seu coração;
Deixar que as pétalas caiam, subtamente,
Dentro do copo translúcido
De seus olhos límpidos,
E sentí-los profundos e suaves
Como o vento frio da neve,
Que adentra intensamente, como fogo,
Que de tênue faz-se ardente,
E relembra na ausência: o sentir.

(8-3-2010)

terça-feira, 4 de maio de 2010

"Carrego nas mãos um fogo que queima..." [Sem Título]

Carrego nas mãos um fogo que queima
E se alimenta de mim,
Carrego nas mãos um fogo que queima
E me alimenta de dentro para fora,
Carrego nas mãos um fogo que queima,
devora, delira, dilacera;
Carrego nas mãos o fogo
.......................das palavras Inauditas.

Diálogos - Breves Divagações II

Breves Divagações II (26/4/2010)

- Por que você, que é tão Você, aceitaria ser outro?
Os olhos suspenderam-se um instante, aprofundaram-se no olhar do interlocutor e se elevaram para o nada além da janela, suspirando silenciosamente. Apertando as mãos contra o corpo.
- Pois quando estou em cima do palco, eu já não sou mais eu; Sou um outro, qualquer, sem forma, sem nome, uma voz que ecoa sobre a partitura.
Disse ela solenemente.
- Então, és uma dissimulação?
- Também, mas acima de tudo um Não-Eu; Uma parte plena de qualquer outra coisa, se não, o Todo.
- Ébrio...!
- ...De si mesmo.
Disse com os olhos voltados ao grave interlocutor, sorrindo com suas íris de trevas; Rangendo com os dentes como lâmina, apontando o acerto precisamente desferido.
- Διονίσοκολαξ...? ¹
- καὶ ὐποκριτήσ. ²

*¹ "dionisokolax" - era como eram conhecidos os atores na grécia antiga, "aduladores de Dioniso", deus do Teatro, do vinho, e da Fertilidade.
*² "kai hypokrités" - E hipócrita. Palavra usada para designar também os atores na grécia antiga, com uma tradução mais profunda: de "existência" escondida.

Ponderação [VISUAL]

.......(Experimento nº XVI "abaixo-secular)

Right = Wrong

...(Que são estes?)

........Vozes que se partem.
Cantam meu nome...
.........................Em algum lugar
.........Onde há apenas
........................Caminho
....................................(e Abstração)

Sem ninguém
................nem espera
....apenas a sombra
...................de duas asas
....Negras. Noite-Sombra.
...................Clarão da divisão.
..Conceitos expurgados,
.................Frágil
..........................Libertação.
...(Onde sentido se perde.
......Onde não há compreensão
...Dentro de uma rua escura,
......Sem aglomeração. Veloz cadência
.........Da madrugada
............................que
..........Se parte).
.....................Torna-se Uma.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sobre o Nada (E talvez, quem sabe, sobre a condição humana...)

"Ir além do Vazio". Seja do mar pós-medieval europeu, seja da capacidade humana. É preciso atravessar, além da dor, o "bojador". Não adianta fixar-se em terra por medo de morrer no Nada. É preciso encarar o Nada e sussurrar risonho aos seus ouvidos. Não há maior arrogância do que esse sentimento de grandeza efêmera que há em ser Humano. Esse formigamento existencial, desconforto que não dura mais que segundos, e existe apenas para si; e no entanto, ousa acreditar haver para as estrelas. Grande ladrão de fogo, e assassino de sombras e fantasmas (criados às vezes) por si mesmo...! Quanta arrogância e quanto trovão há em seus olhos, moléculas acumuladas de mecânica não-pragmática.
É preciso conscientizar-se da sua numerologia, sem nome ou forma verdadeira, apenas número que se soma ou subtrai dentro de uma grande equação de lógica duvidosa; E olha como falam de amor tão docemente...! A estatura humana dentro de si é patética! Escondendo-se dentro de suas construções, quando apavorados e conturbados, querem fugir de tudo que é humano, e como tal, dissimulado e modificador. Mas já tão domesticados tremem à idéia do descampado e do relâmpago, recusam-se a viajar no Nada de suas Vidas, e apegam-se furiosamente às portas de seus apartamentos escuros e mal iluminados, cheirando à poeira de jornal envelhecido, e pão mofado de dentro dos armários desgastados pelo tempo, como se nunca houvesse tido alguém ali.
Olha como correm! De um lado para outro, como baratas tontas e formigas trabalhadoras... E eu? Ah, eu rio. Imerso na parte mais suja e hipócrita de mim... Eu rio com olhos de sombra, pupilas de quem PROCURA o Nada!
No entanto, é preciso reaver a calma, sentar-se solenemente à mesa de jantar e encomendar um café, "Sem açúcar, por favor!". E observar tudo: De dentro para fora, de fora para dentro. Sorrir, chorar, tomar notas e aborrecer-se fielmente, impregnado em meio à massa de concreto, mas não há lugar mais exato para se encontrar o rastro do Nada e do desconhecido do que no meio da multidão. Em plenas ruas atoladas de corpos sem sentido, e sem sentido porque desconhecidos! Mundos, vastos ou pequenos, ainda são mundos. E ainda assim, há a Solidão. O lastro olfativo do Nada, que entrega aos poucos escolhidos que provem da coragem necessária para o/a buscar. Encontrar? Talvez, ou se não, Jamais!

"É uma viagem pela escuridão". Diz o homem sobre o sentimento do nada. Achou que não ia se viver mais. Achou que a morte, "Grande-Irmã", iria encontrar-lhe do outro lado do Sono, poço de treva e mistério que estava inserido. Mas não! Ele recuou, teve medo, e encontrou-se deitado em sua cama, dentro de sua casa de campo, no interior. Nada daquilo passou de um pesadelo. Um pesadelo desesperador. A porta range, e as páginas dos livros abertos sobre a mesa farfalham e viram-se com a presença do vento. Cena final de um filme de má qualidade.
Não há animal mais egoísta que o homem, e ele assim o é porque pensa. Pensa e têm consciência de pensar, e acha-se único por isso, e por ter ciências! Experimentos bem ou mal sucedidos, que lhe surgiram para encher o εγώ! Seu grande Eu incondicional e mesquinho. Desconhece de seu cérebro as entranhas e ousa achar que conhece o daqueles que não são iguais a si. Tendes línguas? Tendes pátrias? Tendes sistemas e epistemes? Eu tenho campos abertos, eu tenho a minha loucura! E mesmo assim, esse pronome intransferível e poético chamado Eu. Referencial de primeira pessoa. Incandescência negro-oscular que supera o coração do centro das cidades, e o faz multiplicar-se em bilhões de outros centros, pontinhos ordinários que se auto-denominam forma silábica e principal.
Não, não... É preciso ter o Nada cravado nas veias, e fragmentos de imagens dixoradas na mente. Não...! É preciso estender os olhos da razão para além dela, e como o grego "superior", personagem daquele de ombros largos já dizia, é preciso saber que nada se sabe. Pois, ver, consiste em não pensar. Sentir. E saber consiste em ter a consciência de que o Nada (que também é Tudo) é maior que nosso egocentrismo medíocre e presunçoso. Quando estivermos prontos para encarar os deuses de frente, e armados, preparados para matá-los, tornaremo-nos verdadeiramente Um, e poderemos então encontrar de olhos sãos(!) o Nada. Verdade Universal e desconhecida.

Antes de ir, um adendo!
Passai a chave em minha porta ao sair, leitor! E por favor, apague (silenciosamente) a luz!

Com um riso entre os dentes...

(R. Duccini & Ralph Wüf - 3/5/2010)

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[Um dueto inesperado...]