sábado, 1 de setembro de 2012

Canção ao Einhleuchtend

V

Deixa no silêncio das mãos
A verdade: aquilo que se
sente e pensa; cala incauto
e sossega a ânsia que transparece
entre os dentes brancos iluminados
pela fosca luz etílica das
madrugadas em calçadas. Mas cala!
Deixa quedar pausa sobre o ar,
tensão sutil sobre os corpos
que se respeitam em ausência,
para que somente o olhar
cálido da aurora te toque,
ainda que Porvir, e te
envolva na suave cor âmbar
das mãos que calam em acordo;
Mas te aquieta, coração! Porque
todo esse alarde não te serve de nada...
Deixa os burburinhos para os bichos
e a afetação para todas as gentes,
mas te acalma e contém este
suspiro, suave prova de Ser:
Cala e segue cm as mãos
unidas na plenitude do Vazio.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Canção ao Einhleuchtend

IV

Doce palavra nos teus lábios amargos:
Egoismo. Tua voz doce em ouvidos secos
Num povo esvaziado de Fé.
Crença, não num Deus, mas em si,
Virtude sólida de ser ante o Mundo.
Quando Tudo era Nada, você veio
como Orpheu, lira em mãos,
e quando a Terra era só deletério,
você fez-se arrebatamento, para
depois mostrar-se humano,
e tão vil como tal. Suas palavras
não me penetram, mas ainda ecoam
na minha mente, ao fundo, como
um sopro na baforada das gentes
ao pé do ouvido. Seu nome,
inverso desejo dos sacerdotes de Creta,
é um mistério já revelado nos trilhos;
E tua vontade, oração impregnada
nos anseios de vós, humanidade.

domingo, 28 de agosto de 2011

Uivo

Uivo

I

Quero uivar,
como uiva na planície o Lobo.
Gritar: berro de tristeza e presença;
Admirar a canção que se faz em meu íntimo,
e sentir sob a noite estrelada
a plenitude de que estou só.
Ouve-se o grito à distância
como um sussurro proferido ao pé do ouvido,
Um trovão que retumba sobre o céu,
E um raio que arrebenta-se
por debaixo da terra.
Houve noites, e agora há noite em tudo que vejo,
Em meu âmago se prolifera o som,
rosnado incauto de que se está vivo,
Fúria que cresce no ameaçar dos quilômetros.
Estou sozinho, completamente
E em meu ser alarga-se esta vontade.
Estou sozinho, e em mim,
Cresce uma fera que tem fome.

II

Estou sozinho;
E o céu noturno se alonga
sobre minha cabeça como um precipício:
Entre as estrelas,
só sua presença se enquadra.

Estou sozinho;
Ao meu redor se estende uma floresta
Com árvores reluzentes de mercúrio
E caixas onde se habita vida.
(Que eu não vejo)

Estou sozinho;
Há fogo em minhas entranhas
E em minha voz um nome que ecoa
...................................................se eu grito.
- Em meu âmago algo se prepondera.

Estou sozinho;
E perdura em meus pés
A sensação de umidade que escorre
de meus olhos, e dos olhos da noite.

Estou sozinho;
E ao meu lado sua presença se estende.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Falsos Haikais e Pesadelo

I

Uma sombra,
Um vulto sob o âmago;
O centro desaveriguado.

II

Estrada
Ladrilho sobre plasma;
Mãos cortadas entre as pedras.

OLEDASEP

Mãos pesadas sobre a ferida.
A langue se levanta mais sórdida,
Sóbria, a Memória se enrubesce,
e no instante, todas as Musas se calam.

Ca a Noite,
......i.................. ..A ...Ç....O
........Como C a c ... n ... ã
...................A
...................I
..... Som solto, inerte na corrente sangüínea,
..... Que se encarna no sopro
................................................ mais que vil
..... de lábios sem pudor
..... Como ossos, vulgas caveiras
................................................ Que cobrem as sepulturas
......................................................do mistério do desconhecido
.............................................. com suas marcas mais tolas,
............................................. com seus fracassos mais falhos,
............................................. com seu nome transformado em grão

.................. COMO NUM ÁTIMO, UMA
.......................................P I S T O´
......................................................L
......................................................A

................................... Fogo so ...............po
..........................................o . ..b ...........r
......................................b. . ........r .....co
..................................r. . ..............e
..............................e. . ...............r......Fome
....................Pó . ....................b
............................................o
.......................................s

........................ A era dos desapegados
.....................Encerrada sob seus pés descalços.

Pelotas - 30-6-2011



sábado, 11 de junho de 2011

Balada

Balada
...............a Orpheu

Teu coração como chumbo naufraga
Ancorado à praia mais silente,
Impotente a todo vento que corta
A tua fina face e o verso tão suave.

Seu corpo dilacerado e seu canto
Se espalham no quebrantar das ondas
Com tua sombra que aos pés submerge
Tão imóvel qual teu rosto petrificado;

Agora, ela está só. E tu, sozinho,
Estrela aos céus desamparado,
Revoga teu destino, maldição:

São grandes teus anseios, oh Poeta!
Mas no firmamento, o horizonte gris,
Tua inquebrantável vontade ao mar.

4 - 6- 2011

Um Chiste...

... A vida não passa
................ de um suspiro
...........................o
...........................p
...........................r
...........................o
.......... Flerte delicado com as
.......................estrelas
.......... que cruzam os céus
.........................e
................ M O R R E M
................Sem nada dizer,
............. sem nada deixar,
....... Se não, o brilho pálido
....de uma eternidade
...........................que se APAGA.

terça-feira, 15 de março de 2011

Rua dos Carvalhos

Hoje, estou somente eu,
Na rua fumo como todos os dias,
Estou cinza, triste, noturno,
Como sempre estive,
E comedido lembro que sou um poeta
e que preciso escrever.
As ruas já me são familiarizadas,
em menos de uma semana,
Entretanto, ainda sou um estrangeiro
Dentro de meu próprio país.

Amanhecerá como todos os dias,
A luz da manhã irradiará o meu quarto,
meus livros, meus móveis recém comprados,
novos ainda que usados, que me remetem a uma nova vida,
uma nova casa, um novo porvir.
Ainda assim, estou só.
Hoje estou sereno, calmo,
Completo em mim mesmo, e sinto
suavemente a solidão das almas
se instaurar em toda a minha repletude.
Há braços, mas os únicos braços que encontro
são os meus. (Quando estendo as mãos, é claro).

Não quero beber, diminuo os cigarros
conforme a intensidade se esvanece,
Lembro de meus projetos e de meus amigos,
Reconheço a luz acesa da janela
de meus novos amigos, e sorrio, sem muita graça
ao saber que se encontram dormindo,
e esqueceram, como sempre, a luz da sala acesa.
Recordo de meus amigos antecessores,
De meus queridos que deixei para trás.
Sinto teus hálitos, seus corpos, seus abraços,
E ouço o som de pássaros imaginários,
que para mim, são silvestres, e selvagens apenas,
habitam os topos dos céus com suas asas de fogo e sombra.
Hoje, na rua do Paralelo, não há ninguém,
mas ainda se encontram dois homens tomando
suas refeições noturnas. Eles não me dizem nada,
Somos desconhecidos.
Nos desconheceremos sempre, enquanto sempre,
e formos humanos mergulhados no seu próprio egoismo.