sábado, 30 de outubro de 2010

Canção ao Einhleuchtend

II

E o que dizer desta luz tão fraca
que ascende antes de se pôr
para o firmamento de todas as coisas?
O lampejo, a subta fagulha inerente
a todos os homens! Que no entanto, não dão conta...
O abismo não é para qualquer um.
Podes tu ver a imensidão do cume
e sentir a pequenez que te abranges tornar-te
suficientemente miserável para nunca encará-lo frente-a-frente;
Mas do alto, como tu bem esperas, pode-se constatar
a grande imensidão escura que te proclamas.
Ama, meu caro, a queda.
Ama, pois nisso, ama-te a ti mesmo!
(porquanto perdurar tua estadia entre o vale);
Imerso entre as trevas, até o fundo de tua alma,
de teu apelo... Pois é somente do topo que consegue-se
encarar abruptamente o âmago do abismo,
constatá-lo como um igual, e compreender seu
Real perigo e sentido.
Quero, ignóbil amante, que entendas
acima de todas as coisas,
somente aqueles que têm asas têm o direito de cair.




terça-feira, 5 de outubro de 2010

Mítica

Mítica
....................................A Igor Roosevelt

"Apaguem as luzes, eu Quero sofrer!"
Gritou o homem embravecido;
Mas as luzes não se apagaram...
Não se apagam, elas, quando bem entendemos,
Apagam-se quando intendem a si
e às próprias intenções (de Fim),
Desfazendo-se em trevas, e som;
Sem luz, transmuta-se, reflexo estrelado
d'uma Rodovia que leva, tortuosa,
à algum lugar... Que não se quer saber.
E grita, com sua voz, tão sua,
impropérios de ninguém;
Brado de um homem louco
que desafia seu humano instinto ao Nada.
Enquanto sofre, desesperado,
empiedando-se e, contorcendo
sua exclamação enraivecida; revira-se
a Luz que atinge os seus olhos.
"Apaguem a luz...!"
E no entanto, não se ajoelha
em sua revolta mais que singela,
abre com as mãos o dilema,
em sua fenda árida e pueril.
Entorta o rosto e o gesto,
inclinando-se para frente,
para baixo, em direção ao vaporoso claustro
que o encerra, e não o deixa encerrar;
(A sua Dor, o seu Lamento, a sua Condição-Humana)
E negando Sua Fé, por entre os dedos,
ajoelha-se na sua contradição.
Já finado, retorna à Terra,
Derrotado e derrotador de seu absurdo
que vai além do indenominável,
Torna o rosto em sua expressão fatídica:
"Por favor...!"
E escorre, como se do peito aberto,
aquela ausência que o faz girar
para que não seja visto,
Para que Reveja, refletido, a Luz que não se apaga,
E constate, em espanto, sua fonte.
A luz está contida em seus olhos.