sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Regresso

Canto porque o amo.
Canto e só por isso sou completo,
Enquanto calado: sou nada.
Mudez entorpecida.
Eu parti, como todos devem,
Como ninguém deveria
E deixei para trás os seus passos
A tocar a vida devagar.
- Esperando meu regresso? -

Sem resposta observo a estrada
Ela me sufoca e me sublima
Num instante de fúria e fogo.
Um foco que não sei se devo perseguir.
Eu prometi que não largaria nada
Prometi que continuaria, contudo,
A seguir pegadas suaves de uma vontade
maior a todas as vidas. E ainda
assim, negligencio seu apelo,
E faço da desordem um propósito,
Sem sentido, sem razão...
E busco enquanto se esvai a fumaça e o trem
Sua mão a encontrar-se com a minha.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Vazio (Rascunho)

E agora
Com a corda no pescoço
O cano bem apontado sobre a têmpora
Já não tem para onde ir.
o claro e o escuro se mesclaram
Junto aos olhos que te buscaram
E Nada, deixaram-te o vazio
Que nunca descansa...
Para onde ir?
Passaste a vida inteira
A destruir as possibilidades
Como num frenesi
Que jamais te pertenceu
E este oco vácuo que te persegues,
E só te restas o gatilho
também esvaziado,
Em dias que não sabem se resignar.
Teve todas as oportunidades,
da fuga à grandeza,
E no entanto, afogou-as em lágrimas
Estáticas.
Sentado no chão do banheiro
enclausurou tua vida
numa ânsia de evaporação
que, pestimosamente, só serviu-se
da fumaça, para tentar enganar
o buraco que se formava.
E agora, não há mais para onde ir.

Desacreditaste de tudo?
Desacreditaste de ti mesmo!
Afundou-se a esmo em um cais
fingindo sonhar marés.
E o dia põe-se a nascer,
As núvens despedem-se de ti,
A liberdade não passou de um sonho bom
que jamais chegou a acreditar ter.
O amor? Desprega este de teu seio
petrificado.
Engole a seco este som que se esvai.
Pois resta apenas este vão que te instaura.
Não, não há mais palha que te preencha...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Balada Marítima II

Balada Marítima II

Morre, como morre a maré,
Serena, incauta
Como o suspiro de todos os
Deuses.
E atravessa doce
o silêncio de todas as praias.
Silente como o canto das sereias
Por cima de todas as pedras
................de todos os montes
................de todos os muros.
E grava com sua voz encouraçada
...O teu rugido mais que distante,
...O teu choro mais que suave,
...A tua vida inteira de tormentas
que se fez escrita
por cima da estrada e do rio
e desaguou como foz
no maior de todos os oceanos,
e se afoga, em um redemoinho,
indo ao fundo de seu aspecto
em um abismo estonteante
que fez, por si, despertar
certo de sua maior grandeza.
......O mar, que nunca termina.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Solilóquio à beira-mar (Rascunho)

Solilóquio

Essa saudade se instaurou
em meu peito como uma mancha,
Como uma tormenta se instaura
no meio do oceano, e me carregou
como uma nódoa negra
para as terras mais além,
e cravou em meu semblante
tal sombra, e encostou a sua
face à minha como brisa que
se desfaz.
Essa saudade se fez mais forte
que os dias que nada trazem,
nas horas que sempre carregam
meus olhos 'inda mais distantes,
e me arrastou como fagulha noite adentro
para depois se apagar;
Pois essa saudade é vontade,
e vontade nada mais é impulso,
E mesmo assim há um império que pesa
por sobre os joelhos e povoa ecos e vozes
sempre nostálgicos, que desperto e emigram,
fugindo como pássaros que dispersam,
desaparecendo pela linha do horizonte enevoado,
fazendo tudo se deflagrar enquanto vão.