domingo, 6 de fevereiro de 2011

Canção ao Einhleuchtend

III

Corre por entre as matas
a tua altura mais que ingrime,
Onde tudo o que a ti é inverso
Se interage na sua forma mais séria.
Sóbrio, o instante te cala,
Sem voz, ruge teu instinto mais sagrado
E faz tremer teus olhos tão incautos.
Aonde está tua voz agora?
Teus passos não se encontram sobre
esta terra desgarrada de teus vícios.
Teu nome, vil, é atado pelos galhos
flexíveis das almas que se despertam
sobre o verde malogrado dos dias;
E teu corpo, palavra estrangulada,
É deitado no meio das copas, onde
tudo rasteja e vôa.
Dentro deste silêncio, teu nome levado
ao inverso, percorre pela outra face
daquilo que te compõe e faz-se compor.
E este sorriso escancarado na face
se despede, torna-se gracejo indesejado
diante do solene que eleva e puxa-te para baixo.
Cala-te diante a origem.
Cala-te e segue pelo corredor estreito,
Abaixa-te e esgueira por entre a verdade
que te morde e te arranca a pele e o som,
deixando-te ensangüentado a percorrer o caminho
em sua metade, sem escapatória: se não,
aceitar e emudecer. Pois teu nome
é superfície, luz que reflete e cega.
Teu nome é a verdade não dita.

Falsos Haikais e Haikai Completo.

I

Sobre meu túmulo
Adormecem
Um lobo e uma flor de cerejeira.

II

Naquela noite ,
Estavam cravados seus olhos
Sobre meu peito.

III

Vindo das profundezas
Me perseguiam,
Dois globos de escuridão.

IV

E diante de tantos
mistérios, somente posso
concordar: Tudo é.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Um novo capítulo [Maio de 2010]

Um Concerto de Violinos

(Inacabado)


Uma xarada: Um homem está sentado em um banco à frente de uma grade.

Delírio tem os sonhos em mãos, como joguetes. A grade começa a cair em cima

do homem; Sonho começa a ceder aos toques de Delírio. O Sonho se vê sendo esmagado

pela grade. Entrou no lugar do homem.

Aonde o homem está?”



Vestígios da Madrugada:


D. está sentado na beira de um mar. O céu é rosado ea areia mais assemelhase a sal, de tão esbranquiçada e exígua que se apresenta. Não restam muitos vestígios de pgadas no chão. Apoiando a têmpora com a palma da mão D. Contempla o mar. Seus olhos são perdidos na vastidão. Ele suspira.

É noite. Um homem e uma mulher encontram-se em um baile de máscaras. Eles dançam e conversam a noite inteira. No fimda festa, ele a toma nos braços e a beija. De mãos dadas eles saem e põem-se a caminha pela calçada. Do outro lado, a orla marítima, esvaziada.

Apenas gaivotas testemunham a madrugada.


À tarde ela se concentra em manifestos políticos, distribui panfletos, inflamadiscursos embriagados e, entrega doses generosas aos mendigos na rua. Eles começam a sorrir e berrar. É uma dor muito forte, parece que os vai romper. Ainda assim, eles não querem que ela se vá. Têm uma certa dose de praser... D. Os abraça solenemente e se põea dançar entre eles. A praça está repleta de transeuntes, e ainda assim, sem ninguém.


Um corvo pousa nos ombros de D.

    • Você sabe que a sabedoria de um tolo não lhe libertará neste momento...

    • E não faz sentido você dizer isto a mim neste momento.

Ele permanece imóvel. Apenas as suas vestes balançam suavemente ao vento. Um ponto de sombra na imensidão espumante.

    • Eu gostaria de poder te entender, sabia?

    • Hm...

    • Eu sei que não faz diferença, mas eu me importo, sabia?

    • Mas a mim não...

    • Doeu, não foi?

    • Muito menos do que eu acharia que fosse doer.

O corvo fica pulando de um ombro ao outro, tentando posicionar-se da maneira mais confortável possível.

    • E agora D. O que fará?

    • Apenas o que precisa ser feito... Responsabilidades são para isso, não? Distração.

O corvo o encara tristemente. Ele continua olhando para frente, sem piscar.


O homem acorda pela manhã com o som do rádio programado. Desperta às 6:30. Ele levanta-se animado, movimentando-se, conforme a música que sai pelos pequenos auto-falantes, direciona-se ao banheiro.

    • Everybody, loves my baby...” ♪

Ducha fria e escova de dentes. Camiseta básica branca, bermuda creme, tênis de caminhada preto. Um “olá” para a pequena largatixa presa na parede do quarto e uma porta que se fecha. De mochila nas costas ele toma um ônibus para lugar qualquer.


D. caminha por entre a rua. Está deserta. Ainda não chegou o amanhecer. Um casal encontra-se sentado à beira-mar, abraçados, eles conversam entre beijos. As palavras são inaudíveis, sussurros entre a explosão das ondas. Fins que justificam os meios.

D. os observa e contempla o rosto dos amantes. E de repente, apavora-se, sem saber o que fazer. Fixa o olhar no rosto do homem e pensa em ir falar com ele. Acena, mas ele não a reconhece; pior, parece simplesmente que não a vê. Ela acena uma vez mais, sendo seguidamente ignorada. Ela se constrange, confusa. Aperta as mãos contra o peito, e encobre o sorriso dos olhos anteriormente expostos e explicitos. Decide-se e dá de ombros, pondo-se a caminhar orla a baixo, em direção a um pequeno rochedo. Ela não parece mais se importar.


O homem pára por um instante e olha nos olhos da amada com uma expreção incômoda.

    • O que foi, querido?

    • Não sei, parecia que havia alguém aqui.

Os olhos percorrem a praia. Não há viv'alma presente, apenas as luzes dos postes e gaivotas adormecidas na areia. Ela percorre o olhar em torno de si e nada vê.

    • Deve ter sido só imprensão sua...

Diz ela tomando-o pelo rosto.

    • Talvez...

    • Shh...

Pedindo para ele ficar quieto, beija-o.

Do outro lado o mar começa uma fria garoa, lá acabou de anoitecer, completamente. Tudo é breu e brilho: gotas de chuva triste e nebulosa.