Um Concerto de Violinos
(Inacabado)
“Uma xarada: Um homem está sentado em um banco à frente de uma grade.
Delírio tem os sonhos em mãos, como joguetes. A grade começa a cair em cima
do homem; Sonho começa a ceder aos toques de Delírio. O Sonho se vê sendo esmagado
pela grade. Entrou no lugar do homem.
Aonde o homem está?”
Vestígios da Madrugada:
D. está sentado na beira de um mar. O céu é rosado ea areia mais assemelhase a sal, de tão esbranquiçada e exígua que se apresenta. Não restam muitos vestígios de pgadas no chão. Apoiando a têmpora com a palma da mão D. Contempla o mar. Seus olhos são perdidos na vastidão. Ele suspira.
É noite. Um homem e uma mulher encontram-se em um baile de máscaras. Eles dançam e conversam a noite inteira. No fimda festa, ele a toma nos braços e a beija. De mãos dadas eles saem e põem-se a caminha pela calçada. Do outro lado, a orla marítima, esvaziada.
Apenas gaivotas testemunham a madrugada.
À tarde ela se concentra em manifestos políticos, distribui panfletos, inflamadiscursos embriagados e, entrega doses generosas aos mendigos na rua. Eles começam a sorrir e berrar. É uma dor muito forte, parece que os vai romper. Ainda assim, eles não querem que ela se vá. Têm uma certa dose de praser... D. Os abraça solenemente e se põea dançar entre eles. A praça está repleta de transeuntes, e ainda assim, sem ninguém.
Um corvo pousa nos ombros de D.
Ele permanece imóvel. Apenas as suas vestes balançam suavemente ao vento. Um ponto de sombra na imensidão espumante.
Eu gostaria de poder te entender, sabia?
Hm...
Eu sei que não faz diferença, mas eu me importo, sabia?
Mas a mim não...
Doeu, não foi?
Muito menos do que eu acharia que fosse doer.
O corvo fica pulando de um ombro ao outro, tentando posicionar-se da maneira mais confortável possível.
O corvo o encara tristemente. Ele continua olhando para frente, sem piscar.
O homem acorda pela manhã com o som do rádio programado. Desperta às 6:30. Ele levanta-se animado, movimentando-se, conforme a música que sai pelos pequenos auto-falantes, direciona-se ao banheiro.
Ducha fria e escova de dentes. Camiseta básica branca, bermuda creme, tênis de caminhada preto. Um “olá” para a pequena largatixa presa na parede do quarto e uma porta que se fecha. De mochila nas costas ele toma um ônibus para lugar qualquer.
D. caminha por entre a rua. Está deserta. Ainda não chegou o amanhecer. Um casal encontra-se sentado à beira-mar, abraçados, eles conversam entre beijos. As palavras são inaudíveis, sussurros entre a explosão das ondas. Fins que justificam os meios.
D. os observa e contempla o rosto dos amantes. E de repente, apavora-se, sem saber o que fazer. Fixa o olhar no rosto do homem e pensa em ir falar com ele. Acena, mas ele não a reconhece; pior, parece simplesmente que não a vê. Ela acena uma vez mais, sendo seguidamente ignorada. Ela se constrange, confusa. Aperta as mãos contra o peito, e encobre o sorriso dos olhos anteriormente expostos e explicitos. Decide-se e dá de ombros, pondo-se a caminhar orla a baixo, em direção a um pequeno rochedo. Ela não parece mais se importar.
O homem pára por um instante e olha nos olhos da amada com uma expreção incômoda.
Os olhos percorrem a praia. Não há viv'alma presente, apenas as luzes dos postes e gaivotas adormecidas na areia. Ela percorre o olhar em torno de si e nada vê.
Diz ela tomando-o pelo rosto.
Pedindo para ele ficar quieto, beija-o.
Do outro lado o mar começa uma fria garoa, lá acabou de anoitecer, completamente. Tudo é breu e brilho: gotas de chuva triste e nebulosa.