segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sobre o Nada (E talvez, quem sabe, sobre a condição humana...)

"Ir além do Vazio". Seja do mar pós-medieval europeu, seja da capacidade humana. É preciso atravessar, além da dor, o "bojador". Não adianta fixar-se em terra por medo de morrer no Nada. É preciso encarar o Nada e sussurrar risonho aos seus ouvidos. Não há maior arrogância do que esse sentimento de grandeza efêmera que há em ser Humano. Esse formigamento existencial, desconforto que não dura mais que segundos, e existe apenas para si; e no entanto, ousa acreditar haver para as estrelas. Grande ladrão de fogo, e assassino de sombras e fantasmas (criados às vezes) por si mesmo...! Quanta arrogância e quanto trovão há em seus olhos, moléculas acumuladas de mecânica não-pragmática.
É preciso conscientizar-se da sua numerologia, sem nome ou forma verdadeira, apenas número que se soma ou subtrai dentro de uma grande equação de lógica duvidosa; E olha como falam de amor tão docemente...! A estatura humana dentro de si é patética! Escondendo-se dentro de suas construções, quando apavorados e conturbados, querem fugir de tudo que é humano, e como tal, dissimulado e modificador. Mas já tão domesticados tremem à idéia do descampado e do relâmpago, recusam-se a viajar no Nada de suas Vidas, e apegam-se furiosamente às portas de seus apartamentos escuros e mal iluminados, cheirando à poeira de jornal envelhecido, e pão mofado de dentro dos armários desgastados pelo tempo, como se nunca houvesse tido alguém ali.
Olha como correm! De um lado para outro, como baratas tontas e formigas trabalhadoras... E eu? Ah, eu rio. Imerso na parte mais suja e hipócrita de mim... Eu rio com olhos de sombra, pupilas de quem PROCURA o Nada!
No entanto, é preciso reaver a calma, sentar-se solenemente à mesa de jantar e encomendar um café, "Sem açúcar, por favor!". E observar tudo: De dentro para fora, de fora para dentro. Sorrir, chorar, tomar notas e aborrecer-se fielmente, impregnado em meio à massa de concreto, mas não há lugar mais exato para se encontrar o rastro do Nada e do desconhecido do que no meio da multidão. Em plenas ruas atoladas de corpos sem sentido, e sem sentido porque desconhecidos! Mundos, vastos ou pequenos, ainda são mundos. E ainda assim, há a Solidão. O lastro olfativo do Nada, que entrega aos poucos escolhidos que provem da coragem necessária para o/a buscar. Encontrar? Talvez, ou se não, Jamais!

"É uma viagem pela escuridão". Diz o homem sobre o sentimento do nada. Achou que não ia se viver mais. Achou que a morte, "Grande-Irmã", iria encontrar-lhe do outro lado do Sono, poço de treva e mistério que estava inserido. Mas não! Ele recuou, teve medo, e encontrou-se deitado em sua cama, dentro de sua casa de campo, no interior. Nada daquilo passou de um pesadelo. Um pesadelo desesperador. A porta range, e as páginas dos livros abertos sobre a mesa farfalham e viram-se com a presença do vento. Cena final de um filme de má qualidade.
Não há animal mais egoísta que o homem, e ele assim o é porque pensa. Pensa e têm consciência de pensar, e acha-se único por isso, e por ter ciências! Experimentos bem ou mal sucedidos, que lhe surgiram para encher o εγώ! Seu grande Eu incondicional e mesquinho. Desconhece de seu cérebro as entranhas e ousa achar que conhece o daqueles que não são iguais a si. Tendes línguas? Tendes pátrias? Tendes sistemas e epistemes? Eu tenho campos abertos, eu tenho a minha loucura! E mesmo assim, esse pronome intransferível e poético chamado Eu. Referencial de primeira pessoa. Incandescência negro-oscular que supera o coração do centro das cidades, e o faz multiplicar-se em bilhões de outros centros, pontinhos ordinários que se auto-denominam forma silábica e principal.
Não, não... É preciso ter o Nada cravado nas veias, e fragmentos de imagens dixoradas na mente. Não...! É preciso estender os olhos da razão para além dela, e como o grego "superior", personagem daquele de ombros largos já dizia, é preciso saber que nada se sabe. Pois, ver, consiste em não pensar. Sentir. E saber consiste em ter a consciência de que o Nada (que também é Tudo) é maior que nosso egocentrismo medíocre e presunçoso. Quando estivermos prontos para encarar os deuses de frente, e armados, preparados para matá-los, tornaremo-nos verdadeiramente Um, e poderemos então encontrar de olhos sãos(!) o Nada. Verdade Universal e desconhecida.

Antes de ir, um adendo!
Passai a chave em minha porta ao sair, leitor! E por favor, apague (silenciosamente) a luz!

Com um riso entre os dentes...

(R. Duccini & Ralph Wüf - 3/5/2010)

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[Um dueto inesperado...]

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