É preciso conscientizar-se da sua numerologia, sem nome ou forma verdadeira, apenas número que se soma ou subtrai dentro de uma grande equação de lógica duvidosa; E olha como falam de amor tão docemente...! A estatura humana dentro de si é patética! Escondendo-se dentro de suas construções, quando apavorados e conturbados, querem fugir de tudo que é humano, e como tal, dissimulado e modificador. Mas já tão domesticados tremem à idéia do descampado e do relâmpago, recusam-se a viajar no Nada de suas Vidas, e apegam-se furiosamente às portas de seus apartamentos escuros e mal iluminados, cheirando à poeira de jornal envelhecido, e pão mofado de dentro dos armários desgastados pelo tempo, como se nunca houvesse tido alguém ali.
Olha como correm! De um lado para outro, como baratas tontas e formigas trabalhadoras... E eu? Ah, eu rio. Imerso na parte mais suja e hipócrita de mim... Eu rio com olhos de sombra, pupilas de quem PROCURA o Nada!
No entanto, é preciso reaver a calma, sentar-se solenemente à mesa de jantar e encomendar um café, "Sem açúcar, por favor!". E observar tudo: De dentro para fora, de fora para dentro. Sorrir, chorar, tomar notas e aborrecer-se fielmente, impregnado em meio à massa de concreto, mas não há lugar mais exato para se encontrar o rastro do Nada e do desconhecido do que no meio da multidão. Em plenas ruas atoladas de corpos sem sentido, e sem sentido porque desconhecidos! Mundos, vastos ou pequenos, ainda são mundos. E ainda assim, há a Solidão. O lastro olfativo do Nada, que entrega aos poucos escolhidos que provem da coragem necessária para o/a buscar. Encontrar? Talvez, ou se não, Jamais!
"É uma viagem pela escuridão". Diz o homem sobre o sentimento do nada. Achou que não ia se viver mais. Achou que a morte, "Grande-Irmã", iria encontrar-lhe do outro lado do Sono, poço de treva e mistério que estava inserido. Mas não! Ele recuou, teve medo, e encontrou-se deitado em sua cama, dentro de sua casa de campo, no interior. Nada daquilo passou de um pesadelo. Um pesadelo desesperador. A porta range, e as páginas dos livros abertos sobre a mesa farfalham e viram-se com a presença do vento. Cena final de um filme de má qualidade.
Não há animal mais egoísta que o homem, e ele assim o é porque pensa. Pensa e têm consciência de pensar, e acha-se único por isso, e por ter ciências! Experimentos bem ou mal sucedidos, que lhe surgiram para encher o εγώ! Seu grande Eu incondicional e mesquinho. Desconhece de seu cérebro as entranhas e ousa achar que conhece o daqueles que não são iguais a si. Tendes línguas? Tendes pátrias? Tendes sistemas e epistemes? Eu tenho campos abertos, eu tenho a minha loucura! E mesmo assim, esse pronome intransferível e poético chamado Eu. Referencial de primeira pessoa. Incandescência negro-oscular que supera o coração do centro das cidades, e o faz multiplicar-se em bilhões de outros centros, pontinhos ordinários que se auto-denominam forma silábica e principal.
Não, não... É preciso ter o Nada cravado nas veias, e fragmentos de imagens dixoradas na mente. Não...! É preciso estender os olhos da razão para além dela, e como o grego "superior", personagem daquele de ombros largos já dizia, é preciso saber que nada se sabe. Pois, ver, consiste em não pensar. Sentir. E saber consiste em ter a consciência de que o Nada (que também é Tudo) é maior que nosso egocentrismo medíocre e presunçoso. Quando estivermos prontos para encarar os deuses de frente, e armados, preparados para matá-los, tornaremo-nos verdadeiramente Um, e poderemos então encontrar de olhos sãos(!) o Nada. Verdade Universal e desconhecida.
Antes de ir, um adendo!
Passai a chave em minha porta ao sair, leitor! E por favor, apague (silenciosamente) a luz!
Com um riso entre os dentes...
(R. Duccini & Ralph Wüf - 3/5/2010)
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[Um dueto inesperado...]
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