domingo, 25 de abril de 2010

Urbanismo

A paisagem urbana me distorce e me estrangula, dormente tateio de maneira descompassada a origem. As metáforas se embolam dissonantes às letras, e se afastam de algum sentido superior. Na superfície me entre-olho; seus são negros e ocos, como o mais profundo mar de estrelas encobertas. Respiro fundo. O ar nada passa por entre a película invisível que cobre meus pulmões, e a noite se dissolve em cacos de neon: Vidro fosco e florescente que respinga líquido por cima de minha cabeça, e sob meus pés, desenha inacabada uma manhã.
Entre-abro os passos pela garganta engolfinhada da cidade, ela me permeneia e me encobre, tornando-me inseparável de sua matéria fundamental, e principalmente, irreconhecível. Não me distinguo, e apresento-me ao Nada de maneira insincera. Insensível não sinto a dor da lâmina perfurar o meu peito, a pólvora e o cabo me transparecem, entretanto, sem nenhuma limpidez. Eu me recosto e desapareço. Ressurgindo, no entanto, úmida e afogada 'num copo de cerveja, que política, me bebe muito bem. Espremendo-me com suas mãos fortes, calejadas, mas, no entanto, enuviadas por uma luva de concreto. Digesta, percorro sem a certeza de um corpo, e me ponho no alto dos arranha-céus, tal como corvo ininteligível por entre as sombras; Grito impropérios e palavras de ordem... Atirando logo em seguida.
Bruscamente me interrompo: Esta noite, (acima de tudo), serei nua e crua, como as entranhas do Rio de Janeiro.

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